Comente sobre a nova unidade da Oficina de Bateria Rui Motta, na Barra da Tijuca (Rio de Janeiro). Como é chegar à terceira unidade de sua escola?
Acho legal falar rapidamente de todas pra ter uma idéia geral. A da Lagoa surgiu em 2006 quando eu tive literalmente que construir o primeiro estúdio, onde funcionava uma clínica com as paredes de vidro, quer dizer, não dava né ? Resultado: muito tijolo, cimento, madeira, paredes, teto (isso mesmo, tive que fazer o teto), madeira, lã de rocha e encheção de saco com os operários.
Na Tijuca eu baixei hospital no meio das obras e minha esposa Monique teve que fazer todo o resto sozinha. O resultado foi ótimo porque ela solucionou problemas de um jeito que eu jamais pensaria. Muito talentosa a Baixinha.
Bom, a escola da Barra surgiu meses depois da escola da Tijuca e foi um processo vitorioso do Jonas, meu filho, com o Cláudio, sócio dele, que fizeram praticamente tudo, e eu fiquei só dando alguns pitacos eventuais. O resultado ficou excelente. Tanto na Lagoa, quanto na Tijuca e na Barra, tivemos a sorte de achar bons locais porque isso é crucial. Na Lagoa, por exemplo, a maioria dos alunos ainda chega por intermédio do letreiro que fica bem visível, numa rua movimentada.
O fato de ter chegado à terceira unidade significa que o trabalho da primeira foi bem feito, e abriu espaço para as outras. Isso sem dúvida é uma conquista, e deixa um gostinho de gratificação, mas o trabalho e a responsabilidade aumentam muito, e você tem que se desdobrar pra corresponder. Mas é um desafio que vale a pena.
Quais as grandes dificuldades que existem atualmente para manter um espaço de ensino musical?
Você fez a pergunta certa, porque é mais difícil manter do que abrir o espaço. É claro que a abertura de um espaço novo tem seus próprios desafios, e não são poucos. Em nosso país a iniciativa pessoal bate de frente com problemas incríveis, e você tem que ter muita paciência, disposição e acreditar muito no seu projeto porque tudo parece concorrer pra que você desista. Isso é um fato. O outro passo – transformar esse espaço numa coisa vitoriosa – é ainda mais desafiador, porque alunos não dão em árvores, e você também precisa formar um bom time de professores e funcionários, além de montar uma estrutura que resista às intempéries dos primeiros meses. Então você precisa estar muito seguro do serviço que está oferecendo pra poder passar por essas etapas. Não pode ser uma coisa tipo vamos ver como é que fica, tudo tem que ser planejado e razoavelmente previsto.
Você possui diversos métodos lançados, está na terceira unidade de sua escola e material lançado em vídeo. Quando ensinar tornou-se parte de sua carreira, e o quão importante é isso para você?
Eu sempre gostei muito de dar aula, mesmo lá atrás, ainda na época dos Mutantes, eu dava um jeito de ter um espaço na minha casa pra montar uma bateria e dar aula. Isso me forçava a pesquisar pra aumentar meus conhecimentos, porque, afinal de contas, tocar bateria era o meu ofício de fé. A curiosidade e a vontade de saber sempre estiveram presentes em mim, como está até hoje.
Em 92, quando saiu meu primeiro método, passei a investir mais tempo nas aulas porque comecei a viajar pra fazer workshops e as pessoas me ligavam de várias cidades fora do Rio e de outros estados. Ao mesmo tempo, eu sentia um grande prazer em estudar bateria, felizmente isso sempre foi assim.
Em geral os músicos deixam de dar aula porque precisam viajar pra fazer os shows. Eu fiz o caminho inverso: parei de investir na minha carreira free lancer pra ter mais tempo pra dar aula e estudar. Logicamente isso teve um alto preço, mas eu estava muito firme diante dos meus propósitos. Mas eu não decidi isso sozinho, essa força veio do Senhor que me guiou o tempo todo, como em todas as etapas cruciais da minha vida.
Qual o conceito base que procura desenvolver com seus alunos?
Nós temos um programa infantil para crianças até 7 anos, além do programa do curso regular de bateria que é profissionalizante e tem como objetivo preparar o aluno para que ele possa exercer, se quiser, o ofício de baterista e atuar em qualquer tipo de trabalho, seja com uma banda ou fazendo shows e gravações com artistas de qualquer nível e estilo. Mas na verdade é o próprio aluno que se forma, se ele não fizer uso adequado das apostilas que são distribuídas no curso, ele não vai chegar lá, e é por isso que nós deixamos o aluno à vontade pra que ele mesmo decida até onde quer chegar. Quando o aluno tá a fim de se desenvolver e tem talento, o professor automaticamente assume uma postura mais exigente porque o programa tem mecanismos para se expandir.
Como o fato de você ter sido autodidata influenciou na montagem de sua metodologia?
Eu estudei e pesquisei bateria a minha vida toda. O programa atual das três escolas começou lá atrás com as minhas próprias anotações, coisas que eu descobria e desenvolvia, porque até dormindo eu pensava em bateria e tocava mentalmente acompanhando com os dentes. Eu sempre gostei tanto de estudar quanto de tocar, não havia diferença, por isso, tudo foi ficando cada vez mais natural e espontâneo.No começo eu ainda usava exercícios selecionados de algum livro, mas logo comecei a compor meus próprios exercícios porque isso tudo resultava em dezenas de manuscritos. Isso era uma febre porque eu queria porque queria tocar do mesmo jeito que tocava na cabeça, não admitia perder pro meu pensamento.
Comente um pouco sobre o início de sua carreira, na época em que você tocava com as bandas Veludo Elétrico (ao lado de Lulu Santos) e Sociedade Anônima. Como era ter uma banda nessa época?
Foi um tempo bom. O comecinho mesmo foi lá em Niteroi, aos 15 anos mais ou menos, fazendo bailes com meus conjuntos da época (Os Corujas, Zoom 2000, Musi Show). Depois veio o Sociedade Anônima, eu ainda morava em Niteroi, onde nasci, e tocava em concertos de rock (chic né ?) no MAM, Villa Lobos e outros lugares, sempre com muito improviso, muita vontade e muita garra. Me lembro que no MAM certa vez tivemos que carregar o palco, isso mesmo, montar o palco antes de colocar o equipamento. Minha primeira gravação profissional em estúdio foi com o Sociedade Anônima, gravamos a música Solto no Ar para uma novela da tv.
Com o Veludo Elétrico nós inauguramos o primeiro espaço underground do Rio que ficava nos porões da faculdade Cândido Mendes, em Ipanema, um barato total que infelizmente durou pouco mas deixou saudades porque era um point onde se reunia todo o pessoal que curtia rock e rolava som até a madrugada, coisa linda.
Me lembro que cada vez que subia ao palco eu era tomado por uma carga de energia que percorria todo o corpo, parecia um dínamo. Tocar em público era uma experiência totalmente mágica, literalmente maravilhosa e única.
Você consegue traçar um paralelo com o mundo atual? Quais são as diferenças principais em termos de ter uma banda autoral?
A produção de um disco por exemplo, é muito mais fácil agora, nem se compara. Antes você tinha primeiro que assinar um contrato com uma gravadora pra ter o trabalho de sua banda gravado. Hoje você faz uma pré produção em casa com qualidade, e com um pouco mais de grana pode até gravar a bateria e instrumentos micronados.
Basicamente o processo ainda é o mesmo: você precisa divulgar seu trabalho pra poder tocar. Só que hoje em dia você dispõe de meios diretos de comunicação e pode fazer boa parte dessa divulgação sentado numa cadeira, de frente para um computador. Quer dizer, nesse ponto facilitou muito, né?
Quais eram suas influências na época?
Principalmente Beatles e mais tarde, Steppenwolf, Procol Harum, Jimmy Hendrix e uma lista infindável de bandas, cantores e músicos que eu curtia, mas sinceramente nunca me preocupei em tocar igual a ninguém. Se você me perguntar qual foi o baterista que eu mais ouvi eu digo que foi o Ringo, nem tanto por ele, mas por causa dos Beatles, embora eu considere o Ringo genial.
Atualmente quais são suas influências?
Influência mesmo no sentido exato da palavra acho que não tenho nenhuma, mas gosto de toda música que chegue prazerosamente aos meus ouvidos e que tenha sido feita num patamar superior de elaboração e inspiração. Caetano Veloso por exemplo, consegue manter até hoje um frescor musical muito raro para um artista consagrado, chegando mesmo a fazer música quase experimental. Isso mostra que o cara ainda está preocupado em buscar novos ares pra sua música, e isso não é todo mundo que faz.
E seu lado compositor? Quando ele começou a aflorar?
Por volta de 1975 comprei meu primeiro piano acústico e comecei a compor algumas músicas e fazer arranjos. Nos anos 80 surgiu um gravador pequeno que fazia play back (esqueci o nome dele), e isso me motivou a compor cada vez mais, com a vantagem de ouvir depois a música por inteiro, só que toda gravada no piano, ou seja, a base era o piano, assim como o baixo, as melodias e os contra solos. O resultado era uma verdadeira pianada que eu procurava diferenciar gravando em oitavas diferentes e diferenciando os volumes. É aquela velha história: quem quer faz, né mesmo? Depois era só ouvir dezenas de vezes, regravar outras dezenas e por fim escrever o arranjo definitivo. Daí surgiu a minha velha mania de escrever a música toda, até a linha do baixo.
Como você enxerga o futuro do ensino musical no Brasil?
Com bons olhos. O Brasil é um país super musical e vive a música no seu dia a dia. Acredito que daqui a pouco a música terá seu espaço no programa escolar em escala geral. Tá demorando, é verdade, mas acho que chegaremos lá. Isso tudo vai acontecer a partir de uma demanda social que já está em andamento, e é uma questão de tempo.
Conte sobre sua época com os Mutantes. Como era o dia-a-dia?
Era um tempo bem diferente em que fui muito feliz. Nós ensaiávamos, e boa parte do tempo morávamos, numa casa grande em Itaipava com um rio que passava ao lado, que era do nosso querido amigo e empresário, Samuca. Tínhamos um quarto pra cada um, inclusive pro road (sim, o road morava com a gente) muita área verde e um salão de jogos transformado em estúdio. Normalmente acordávamos depois do meio dia porque tínhamos ido dormir com o dia raiando. Daí partíamos pro café da manhã, almoço por volta das 4 ou 5 da tarde, depois partíamos para o estúdio até que a fome nos forçasse a uma parada para um lanche e recomeçar tudo de novo até o clarear do outro dia.
Mais ou menos duas vezes por mês saíamos pra fazer um show, e quando era em São Paulo e arredores, parávamos na casa dos pais do Sérgio, no bairro de Higienópolis, pra reciclar e curtir um pouco de Sampa. Note que a gente reciclava as idéias na cidade, e não na natureza, porque já morávamos lá. Muito luxo né?
Enfim, era só alegria, num espaço de tempo que passou como um raio em cinco anos inesquecíveis que marcaram toda a minha vida.
E seu material em DVD Workshop para Bateria e Teclado junto com Fernando Moura. Qual a concepção?
Nos final dos anos 70 e toda a década de 80, eu e o Fernando trabalhamos juntos em muitos shows, viagens, gravações de todo tipo, e sempre tivemos uma identificação musical e pessoal muito consistente. Fizemos várias tentativas anteriores de dividir um trabalho solo e nunca conseguimos. Derrepente, não me lembro nem porque, surgiu a idéia desse DVD que não teve nenhuma pré concepção, a não ser a vontade de fazer algo diferente do que já tínhamos feito.
Começamos a ensaiar no estúdio da oficina da Lagoa e era assim: quando era música do Fernando ele mostrava a música toda sequenciada, menos a bateria. Quando era música minha, eu ia pro estúdio dele em Botafogo e fazíamos o sequencer, daí então partíamos para os ensaios. Nos ensaios eu tocava de headphone, que escondia muitos detalhes do sequencer, por isso, nunca ouvia todas as vozes sequenciadas, e, pra você ter uma idéia, aconteceu que, em algumas músicas, eu só fui ouvir tudo que estava sequenciado quando o técnico abriu todas as vozes nos canais da mesa, isso já no dia da gravação. Felizmente os arranjos da bateria, que já estavam prontos e escritos, foram todos na mosca e eu não tive que mudar nada.
Outro detalhe curioso desse trabalho é que, pela primeira vez, eu decidi que os arranjos da bateria seriam quase totalmente escritos. O resultado disso é que mais ou menos 90% da bateria é sempre tocada da mesma forma, porque os arranjos são muito diferentes, intrincados e com muita parte ambidestra. Tive até que acrescentar, do lado esquerdo do contratempo, um surdo, um tom e uma caixa, além do tamborim e da panelinha, para as levadas com a esquerda. Foi o kit mais completo que eu montei até hoje.
E seus discos solo? Como eles foram nascendo? (Sempre houve um processo similar ou algum deles foi totalmente diferente)?
O processo foi sempre o mesmo: tudo começou com aquele gravadorzinho que fazia play back. Daí eu comecei a produzir freneticamente as músicas e os arranjos juntos, guardava tudo naqueles envelopes de papel pardo e continuava o processo. O resultado é que acabei fazendo músicas para vários discos, e até hoje não gravei tudo ainda.
Houve uma fase, nos anos 80, em que eu compunha muito e ficava com as mãos suando frio porque as idéias vinham em cascata na minha mente e eu não conseguia registrá-las na mesma velocidade. Isso causava um grande desconforto porque eu sempre acabava perdendo muita coisa.
Outra coisa engraçada que acontecia é que, não raramente, minha mão escorregava e errava o acorde que estava programado, mas acabava saindo uma solução harmônica muito melhor. Coisas do arco da velha, né?
Comente sobre a nova unidade da Oficina de Bateria Rui Motta, na Barra da Tijuca (Rio de Janeiro). Como é chegar à terceira unidade de sua escola?
Acho legal falar rapidamente de todas pra ter uma idéia geral. A da Lagoa surgiu em 2006 quando eu tive literalmente que construir o primeiro estúdio, onde funcionava uma clínica com as paredes de vidro, quer dizer, não dava né ? Resultado: muito tijolo, cimento, madeira, paredes, teto (isso mesmo, tive que fazer o teto), madeira, lã de rocha e encheção de saco com os operários. Na Tijuca eu baixei hospital no meio das obras e o Raul, gerente da escola, tocou toda a obra com um ótimo resultado.
Bom, a escola da Barra surgiu meses depois da escola da Tijuca e foi um processo vitorioso do Jonas, meu filho, com o Cláudio, sócio dele, que fizeram praticamente tudo, e eu fiquei só dando alguns pitacos eventuais. O resultado ficou excelente. Tanto na Lagoa, quanto na Tijuca e na Barra, tivemos a sorte de achar bons locais porque isso é crucial.
O fato de ter chegado à terceira unidade significa que o trabalho da primeira foi bem feito, e abriu espaço para as outras. Isso sem dúvida é uma conquista, e deixa um gostinho de gratificação, mas o trabalho e a responsabilidade aumentam muito, e você tem que se desdobrar pra corresponder. Mas é um desafio que vale a pena.
Quais as grandes dificuldades que existem atualmente para manter um espaço de ensino musical?
Você fez a pergunta certa, porque é mais difícil manter do que abrir o espaço. É claro que a abertura de um espaço novo tem seus próprios desafios, e não são poucos. Em nosso país a iniciativa pessoal bate de frente com problemas incríveis, e você tem que ter muita paciência, disposição e acreditar muito no seu projeto porque tudo parece concorrer pra que você desista. Isso é um fato. O outro passo – transformar esse espaço numa coisa vitoriosa – é ainda mais desafiador, porque alunos não dão em árvores, e você também precisa formar um bom time de professores e funcionários, além de montar uma estrutura que resista às intempéries dos primeiros meses. Então você precisa estar muito seguro do serviço que está oferecendo pra poder passar por essas etapas. Não pode ser uma coisa tipo vamos ver como é que fica, tudo tem que ser planejado e razoavelmente previsto.
Você possui diversos métodos lançados, está na terceira unidade de sua escola e material lançado em vídeo. Quando ensinar tornou-se parte de sua carreira, e o quão importante é isso para você?
Eu sempre gostei muito de dar aula, mesmo lá atrás, ainda na época dos Mutantes, eu dava um jeito de ter um espaço na minha casa pra montar uma bateria e dar aula. Isso me forçava a pesquisar pra aumentar meus conhecimentos, porque, afinal de contas, tocar bateria era o meu ofício de fé. A curiosidade e a vontade de saber sempre estiveram presentes em mim, como está até hoje.
Em 92, quando saiu meu primeiro método, passei a investir mais tempo nas aulas porque comecei a viajar pra fazer workshops e as pessoas me ligavam de várias cidades fora do Rio e de outros estados. Ao mesmo tempo, eu sentia um grande prazer em estudar bateria, felizmente isso sempre foi assim.
Em geral os músicos deixam de dar aula porque precisam viajar pra fazer os shows. Eu fiz o caminho inverso: parei de investir na minha carreira free lancer pra ter mais tempo pra dar aula e estudar. Logicamente isso teve um alto preço, mas eu estava muito firme diante dos meus propósitos. Mas eu não decidi isso sozinho, essa força veio do Senhor que me guiou o tempo todo, como em todas as etapas cruciais da minha vida.
Qual o conceito base que procura desenvolver com seus alunos?
Nós temos um programa infantil para crianças até 7 anos, além do programa do curso regular de bateria que é profissionalizante e tem como objetivo preparar o aluno para que ele possa exercer, se quiser, o ofício de baterista e atuar em qualquer tipo de trabalho, seja com uma banda ou fazendo shows e gravações com artistas de qualquer nível e estilo. Mas na verdade é o próprio aluno que se forma, se ele não fizer uso adequado das apostilas que são distribuídas no curso, ele não vai chegar lá, e é por isso que nós deixamos o aluno à vontade pra que ele mesmo decida até onde quer chegar. Quando o aluno tá a fim de se desenvolver e tem talento, o professor automaticamente assume uma postura mais exigente porque o programa tem mecanismos para se expandir.
Como o fato de você ter sido autodidata influenciou na montagem de sua metodologia?
Eu estudei e pesquisei bateria a minha vida toda. O programa atual das três escolas começou lá atrás com as minhas próprias anotações, coisas que eu descobria e desenvolvia, porque até dormindo eu pensava em bateria e tocava mentalmente acompanhando com os dentes. Eu sempre gostei tanto de estudar quanto de tocar, não havia diferença, por isso, tudo foi ficando cada vez mais natural e espontâneo..No começo eu ainda usava exercícios selecionados de algum livro, mas logo comecei a compor meus próprios exercícios porque isso tudo resultava em dezenas de manuscritos. Isso era uma febre porque eu queria porque queria tocar do mesmo jeito que tocava na cabeça, não admitia perder pro meu pensamento.
Comente um pouco sobre o início de sua carreira, na época em que você tocava com as bandas Veludo Elétrico (ao lado de Lulu Santos) e Sociedade Anônima. Como era ter uma banda nessa época?
Foi um tempo bom. O comecinho mesmo foi lá em Niteroi, aos 15 anos mais ou menos, fazendo bailes com meus conjuntos da época (Os Corujas, Zoom 2000, Musi Show). Depois veio o Sociedade Anônima, eu ainda morava em Niteroi, onde nasci, e tocava em concertos de rock (chic né ?) no MAM, Villa Lobos e outros lugares, sempre com muito improviso, muita vontade e muita garra. Me lembro que no MAM certa vez tivemos que carregar o palco, isso mesmo, montar o palco antes de colocar o equipamento. Minha primeira gravação profissional em estúdio foi com o Sociedade Anônima, gravamos a música Solto no Ar para uma novela da tv.
Com o Veludo Elétrico nós inauguramos o primeiro espaço underground do Rio que ficava nos porões da faculdade Cândido Mendes, em Ipanema, um barato total que infelizmente durou pouco mas deixou saudades porque era um point onde se reunia todo o pessoal que curtia rock e rolava som até a madrugada, coisa linda.
Me lembro que cada vez que subia ao palco eu era tomado por uma carga de energia que percorria todo o corpo, parecia um dínamo. Tocar em público era uma experiência totalmente mágica, literalmente maravilhosa e única.
Você consegue traçar um paralelo com o mundo atual? Quais são as diferenças principais em termos de ter uma banda autoral?
A produção de um disco por exemplo, é muito mais fácil agora, nem se compara. Antes você tinha primeiro que assinar um contrato com uma gravadora pra ter o trabalho de sua banda gravado. Hoje você faz uma pré produção em casa com qualidade, e com um pouco mais de grana pode até gravar a bateria e instrumentos microfonados.
Basicamente o processo ainda é o mesmo: você precisa divulgar seu trabalho pra poder tocar. Só que hoje em dia você dispõe de meios diretos de comunicação e pode fazer boa parte dessa divulgação sentado numa cadeira, de frente para um computador. Quer dizer, nesse ponto facilitou muito, né?
E o que você acha que piorou? Ou que era mais fácil na época e atualmente se complicou.
O que era mais fácil mesmo era minha própria vida que era bem mais simples e eu só tinha que me preocupar com a bateria e com a banda, e gastava todo meu tempo nisso e não sentia falta de mais nada, meu mundo estava completo ali, daquele jeito. No geral não vejo nada que tenha piorado não, pelo contrário, até melhorou em alguns aspectos, como o do equipamento de monitoração de palco e PA, que na época não tinha pra alugar, então, nós que não queríamos ficar à mercê de qualquer meia dúzia de caixas de som que aparecesse na hora, tínhamos que ter tudo: instrumentos, monitoração, PA, e um caminhão pra carregar tudo, aliás depois de um tempo eram dois caminhões, porque um deles era pra carregar somente as caixas de grave que mediam 3 metros e meio de largura por um e meio de altura e profundidade cada uma, sem nenhum exagero. Coisas dos anos 70 meu irmão, mas o que é legal frisar é que a gente não corria do pau não; se era pra melhorar o som então a gente caia dentro, mesmo sabendo que o custo operacional do show iria aumentar, porque tínhamos esse ideal, fazer as pessoas viajarem não só com a música, como também com o ambiente sonoro. O resultado disso é que constantemente as pessoas apareciam chorando no camarim depois dos shows para nos agradecer. Quer dizer, isso não tem preço, como dizia a propaganda. Aliás, isso aconteceu de novo recentemente, num reencontro da banda.
Quais eram suas influências na época?
Principalmente Beatles e mais tarde, Steppenwolf, Procol Harum, Jimi Hendrix e uma lista infindável de bateristas, bandas, cantores e músicos que eu curtia, mas sinceramente nunca me preocupei em tocar igual a ninguém. Se você me perguntar qual foi o baterista que eu mais ouvi eu digo que foi o Ringo, nem tanto por ele, mas por causa dos Beatles, embora eu considere o Ringo genial.
Acho legal dizer também que, por volta dos 16, 17, 18 anos, eu ouvia muitos discos, praticamente o dia todo, e isso certamente influenciou tudo que eu fiz daí em diante. Eram quase todos os grupos de rock da época, mas ouvia também muita música brasileira, samba, jazz, quer dizer, era muita diversificação, e essa salada sempre se deu muito bem com o meu temperamento eclético por natureza.
Atualmente quais são suas influências?
Influência mesmo no sentido exato da palavra acho que não tenho nenhuma, mas gosto de toda música que chegue prazerosamente aos meus ouvidos e que tenha sido feita num patamar superior de elaboração e inspiração. Caetano Veloso por exemplo, consegue manter até hoje um frescor musical muito raro para um artista consagrado, chegando mesmo a fazer música quase experimental. Isso mostra que o cara ainda está preocupado em buscar novos ares pra sua música, e isso não é todo mundo que faz.
Eu me identifico com essa inquietude que faz com que eu me sinta sempre em débito com a criação, seja musical ou baterística, porque é esse sentimento que me leva de encontro aos meus achados mais originais.
E seu lado compositor? Quando ele começou a aflorar?
Por volta de 1975 comprei meu primeiro piano acústico e comecei a compor algumas músicas e fazer arranjos. Nos anos 80 surgiu um gravador pequeno que fazia play back (esqueci o nome dele), e isso me motivou a compor cada vez mais, com a vantagem de ouvir depois a música por inteiro, só que toda gravada no piano, ou seja, a base era o piano, assim como o baixo, as melodias e os contra solos. O resultado era uma verdadeira pianada que eu procurava diferenciar gravando em oitavas diferentes e diferenciando os volumes. É aquela velha história: quem quer faz, né mesmo? Depois era só ouvir dezenas de vezes, regravar outras dezenas e por fim escrever o arranjo definitivo. Daí surgiu a minha velha mania de escrever a música toda, até a linha do baixo.
Geralmente quem toca um instrumento harmônico/ melódico além de bateria, acaba abordando o kit de uma forma diferente. Como é isso para você?
Bom, eu não gosto de afinar tonalmente a bateria, ou seja, afinar o instrumento dentro de uma tonalidade pré fixada. A relação tonal entre os tambores sempre vai ter porque um é mais grave ou mais agudo que o outro, mas não tenho como ponto de partida nenhuma nota musical. Essa relação tonal quem vai definir é o próprio tambor, no momento da afinação, aí vejo no conjunto como é que eles estão soando.
A afinação da bateria acaba determinando o jeito que você vai tocar. Uma caixa muito aguda acaba sendo uma tentação danada pros rulos de toques duplos né? Você tem que dosar a mão pra não exagerar. Numa afinação mais baixa aí você procura usar mais os toques simples e deixar mais espaço para que os tambores respirem um pouco, porque essa é a deixa que os tambores graves te dão.
O que o estudo do piano e da harmonia me deixou de herança foi o desenvolvimento do meu ouvido musical, e isso me ajuda muito na hora de definir o arranjo da bateria, porque me sinto familiarizado com o que os outros instrumentos estão fazendo, então essa familiaridade me deixa mais dentro da música e até me dá mais coragem para eventualmente experimentar alguma coisa mais ousada.
Quero só acrescentar que eu não sou nem me sinto pianista. Apenas tenho uma facilidade para compor, arranjar e harmonizar, mas tudo lentamente, pois não tenho agilidade com isso, tanto é que eu não consigo tocar uma música minha inteira no piano, eu tenho que pegar as partituras, ver trecho por trecho e aos poucos emendá-los. O que tenho de bom é a persistência de procurar a nota certa para a melodia ou harmonia e não me contentar sempre com a primeira idéia. Estudei um pouco de escala, solfejo e harmonia funcional, isso me ajuda nas opções musicais, mas a música mesmo nasceu comigo, isso não tem jeito, é da minha natureza.
Como você enxerga o futuro do ensino musical no Brasil?
Com bons olhos. O Brasil é um país super musical e vive a música no seu dia a dia. Acredito que daqui a pouco a música terá seu espaço no programa escolar em escala geral. Tá demorando, é verdade, mas acho que chegaremos lá. Isso tudo vai acontecer a partir de uma demanda social que já está em andamento, e é uma questão de tempo.
Músicos autodidatas como eu serão cada vez menos porque a oferta de escolas vai sempre aumentar. O cara pode ter uma facilidade musical fora do comum, mas se ele junta isso com um bom curso na sua área, é claro que ele vai decolar muito mais rápido. Uma das coisas mais erradas que eu ainda ouço de vez em quando é músico dizer que o estudo vai atrapalhar a criatividade. Isso não tem nenhum fundamento, onde já se viu algum setor da atividade humana piorar com os estudos?
Conte sobre sua época com os Mutantes. Como era o dia-a-dia?
Era um tempo bem diferente em que fui muito feliz. Nós ensaiávamos, e boa parte do tempo morávamos, numa casa grande em Itaipava com um rio que passava ao lado, que era do nosso querido amigo e empresário, Samuca. Tínhamos um quarto pra cada um, inclusive pro roadie (sim, o roadie morava com a gente) muita área verde e um salão de jogos transformado em estúdio. Normalmente acordávamos depois do meio dia porque tínhamos ido dormir com o dia raiando. Daí partíamos pro café da manhã, almoço por volta das 4 ou 5 da tarde, depois partíamos para o estúdio até que a fome nos forçasse a uma parada para um lanche e recomeçar tudo de novo até o clarear do outro dia.
Mais ou menos duas vezes por mês saíamos pra fazer um show, e quando era em São Paulo e arredores, parávamos na casa dos pais do Sérgio, no bairro de Higienópolis, pra reciclar e curtir um pouco de Sampa. Note que a gente reciclava as idéias na cidade, e não na natureza, porque já morávamos lá. Muito luxo né?
Enfim, era só alegria, num espaço de tempo que passou como um raio em cinco anos inesquecíveis que marcaram toda a minha vida.
E as ideias musicais? Como era a troca que gerava as composições?
Bom, com os Mutantes a gente improvisava, improvisava, até que alguma parte se repetia e isso acabava sendo o embrião de alguma futura música que depois seria desenvolvida por algum membro da banda ou pela banda toda em um outro ensaio. Dizem que os pássaros possuem alma em conjunto, acho que Mutantes era um pouco assim: onde um ia, a banda inteira ia atrás. A gente confiava tanto nisso que se dava ao luxo de improvisar no meio da música, em pleno show, e depois voltar pro arranjo sem nenhum problema, como se nada tivesse acontecido. Fizemos isso até no estúdio, no final da música Tudo Foi Feito pelo Sol, que passou a integrar o arranjo definitivo da música. Então essa era a troca que havia entre nós, baseado numa sólida parceria, profunda confiança e na admiração que um tinha pelo outro.
As músicas novas surgiam também quando um dos membros apresentava a música no violão ou no piano. Em seguida íamos pro estúdio tecer os arranjos.
E o seu papel como compositor na banda? Você também assina a faixa Deixe Entrar um Pouco d’Água no Quintal. Qual era o espaço que você tinha para surgir com suas ideias?
Naquela época eu tinha quase nenhuma rodagem com o piano, isso não me facilitava em nada, então eu guardava minhas idéias pra hora do ensaio, já na bateria, aí elas surgiam mais facilmente, mas mesmo assim não era muito fácil porque na bateria fica difícil você passar a idéia do arranjo, a não ser quando vinha a parte melódica na cabeça, aí era engraçado porque eu tinha que parar o ensaio e fazer com a boca o que eu queria. O legal é que eu tinha espaço pra fazer
isso porque a banda tinha como base o respeito mútuo.
Com Deixe Entrar um Pouco D’Água no Quintal foi um lance curioso; nós estávamos com tudo pronto pra vir pro Rio gravar o disco (Tudo foi Feito pelo Sol). O QG da banda ainda era na Serra da Cantareira, em São Paulo. Tudo pronto mas faltava um detalhe: a letra dessa música. Então, eu, que nunca gostei de pendências, resolvi fazer a letra sem nunca ter feito uma antes. Passei uma noite inteira acordado e na manhã seguinte a letra estava pronta.
O que você costumava praticar na época?
Quero lembrar que até meados da década de 70 havia, até onde me chegava às mãos, um único livro de bateria no Brasil que é aquele famoso do Gene Kruppa. Ali eu entrei em contato pela primeira vez com assuntos fundamentais como Paradidles e Rolos. Tinha também umas coisas meio chatas de up and down, mãos pra cima e pra baixo, que eu nunca tive saco suficiente pra estudar. Fora isso o que eu gostava mesmo de fazer era botar os pés e as mãos pra tocarem cada vez mais rápido. A Independência Motora por exemplo ficava em segundo plano. Aconteceu que só mais tarde fui descobrir que eu quase não estudava, e sim, tocava. Eu era meio psicótico com bateria e não saia de cima dela o dia inteiro, simplesmente porque não conhecia nada melhor que me desse tanto prazer.
Um pouco mais pra frente comecei a entrar em contato com alguns outros métodos e tinha um amigo que foi estudar guitarra em Berkley (escrevi certo?), daí que ele me enviava pelos Correios alguns livros e apostilas do curso de bateria. A partir daí comecei a sistematizar mais meus estudos.
Conte também como era sua rotina de estudos desde que começou, e o que fez você se desenvolver como músico.
O ponto de partida do meu desenvolvimento foi a minha curiosidade e a sede de aprender. No caso da bateria foi a descoberta gradativa de todos os tópicos relativos ao estudo desse instrumento fantástico. Coordenação, Velocidade, Independência, Técnicas, Ambidestria e etc, isso tudo faz parte de um mundo de coisas que eu fui descobrindo aos poucos e tinha que abordar tudo. A minha rotina nunca foi fixa por muito tempo, ela sempre mudou em função das minhas descobertas porque basicamente trata-se dos mesmos tópicos, só que os modelos dos exercícios variam muito e você precisa ver qual o melhor pra você no seu momento. Como não havia ninguém pra me orientar e muito menos escolas de bateria, tive que fazer sozinho minhas próprias descobertas. Na verdade isso foi maravilhoso pra mim porque acabei forjando um jeito meu de tocar, mas acredito que a vida sempre deu o melhor pra mim e fico muito feliz por ter sido assim, mas sem dúvida que se eu tivesse tido uma orientação formal adequada eu teria poupado muito tempo nessa história.
O meu desenvolvimento como músico teve um impulso maior depois que comecei a estudar bateria com mais objetividade, unidos aos estudos do piano e similares. Mas é claro que esses desenvolvimento só aumenta com o tempo e a experiência. Mas é um engano dizer que o tempo só traz coisas boas, ele também pode enterrar o vigor e o frescor musical, se o cara não se cuidar.
E seu material em DVD Workshop para Bateria e Teclado junto com Fernando Moura. Qual a concepção?
Nos final dos anos 70 e toda a década de 80, eu e o Fernando trabalhamos juntos em muitos shows, viagens, gravações de todo tipo, e sempre tivemos uma identificação musical e pessoal muito consistente. Fizemos várias tentativas anteriores de dividir um trabalho solo e nunca conseguimos. Derrepente, não me lembro quando nem porque, surgiu a idéia desse DVD que não teve nenhuma pré concepção, a não ser a vontade de fazer algo diferente do que já tínhamos feito.
Começamos a ensaiar no estúdio da oficina da Lagoa e era assim: quando era música do Fernando ele mostrava a música toda sequenciada, menos a bateria. Quando era música minha, eu ia pro estúdio dele em Botafogo e fazíamos o sequencer, daí então partíamos para os ensaios. Nos ensaios eu tocava de headphone, que escondia muitos detalhes do sequencer, por isso, nunca ouvia todas as vozes sequenciadas, e, pra você ter uma idéia, aconteceu que, em algumas músicas, eu só fui ouvir tudo que estava sequenciado quando o técnico abriu todas as vozes nos canais da mesa, isso já no dia da gravação. Felizmente os arranjos da bateria, que já estavam prontos e escritos, foram todos na mosca e eu não tive que mudar nada.
Outro detalhe curioso desse trabalho é que, pela primeira vez, eu decidi que os arranjos da bateria seriam quase totalmente escritos. O resultado disso é que mais ou menos 90% da bateria é sempre tocada da mesma forma, porque os arranjos são muito diferentes, intrincados e com muita parte ambidestra. Tive até que acrescentar, do lado esquerdo do contratempo, um surdo, um tom e uma caixa, além do tamborim e da panelinha, para as levadas com a esquerda. Foi o kit mais completo que eu montei até hoje.
E seus discos solo? Como eles foram nascendo? (Sempre houve um processo similar ou algum deles foi totalmente diferente)?
O processo foi sempre o mesmo: tudo começou com aquele gravadorzinho que fazia play back. Daí eu comecei a produzir freneticamente as músicas e os arranjos juntos, guardava tudo naqueles envelopes de papel pardo e continuava o processo. O resultado é que acabei fazendo músicas para vários discos, e até hoje não gravei tudo ainda.
Houve uma fase, nos anos 80, em que eu compunha muito e ficava com as mãos suando frio porque as ideias vinham em cascata na minha mente e eu não conseguia registrá-las na mesma velocidade. Isso causava um grande desconforto porque eu sempre acabava perdendo muita coisa.
Outra coisa engraçada que acontecia é que, não raramente, minha mão escorregava e errava o acorde que estava programado, mas acabava saindo uma solução harmônica muito melhor. Coisas do arco da velha, né?
Para fecharmos, que dica você pode dar para quem pretende ter uma carreira de sucesso na música, assim como você?
A melhor dica continua sendo a dedicação de horas a fio em cima do instrumento e fazer um estudo direcionado e consciente, fugindo sempre dos desafios que não sejam bons pra seu desenvolvimento pessoal. Quer um exemplo? Uma vez comecei a ver um livro de fugas para a bateria; isso mesmo, fugas como a de Bach. Você começava com a direita tocando a caixa com um chocalho no lugar das baquetas, e a esquerda entrava no terceiro compasso fazendo a mesma coisa que a direita tinha feito no primeiro, e assim por diante com os pés. Se você conseguisse passar do oitavo compasso experimentaria uma sensação incrível de vitória e encheria seu ego, mas como exercício para desenvolver a Independência Rítmica certamente tem outros não tão específicos que cumprem essa missão com muito mais objetividade. Quer dizer, é a velha história: isso pode ser bom para uma demonstração ou um workshop por exemplo, mas não exatamente para seus estudos.
Pra finalizar quero agradecer à Modern Drummer e ao Vlad por me darem espaço pra falar sobre coisas que eu gosto tanto e responder a perguntas que me remeteram a fatos tão legais da minha vida. Muito obrigado de coração.
Entrevista publicada na revista Modern Drummer em Abril de 2015